Depressão: um apelo e um relato pessoal
- Larissa Moggi
- 13 de nov. de 2022
- 5 min de leitura
Assuntos tabus na temporada escorpiana

Oi, gente. Hoje vim fazer um apelo. Emocional. Tem pouco mais de 1 mês que saímos do setembro amarelo, embora o sinal vermelho da saúde mental não desligue durante o ano inteiro. O meu apelo é para as pessoas que NÃO sofrem com a saúde mental. Pra quem não entende o que é uma ansiedade, pânico, depressão, borderline…
Um adendo, à luz da astrologia:
Quando eu falo que não acredito em coincidências é porque, “por acaso”, nada é ao acaso. Não há nada mais simbólico, para mim, do que esse tema ter ficado em evidência na minha vida na temporada escorpiana. Um dos temas, na verdade, porque tenho enfrentado muitas outras questões associadas a este signo, ou seja, questões profundas, sombrias e transformadoras. Mas hoje utilizo esse espaço particular para um apelo e um relato pessoal sobre a depressão. E por que trato também como um assunto do rol de escorpião, embora saúde mental esteja relacionada à casa 12, logo, assuntos netunianos? Escorpião está associado a tudo aquilo que é tabu na sociedade (sexo, morte, suicídio...). Fala de tudo aquilo que é difícil enxergarmos, daquilo que de forma inconsciente vamos empurrando para debaixo do tapete. E quando o sol está passando pelo 8º signo, entre final de outubro a final de novembro, ele está colocando luz sobre todas as questões que colocamos na sombra. Não à toa, tende a ser uma época mais intensa, mas com muitas oportunidades de transformação e cura.
Voltando à depressão e ao apelo para quem NÃO sofre com transtornos de saúde mental.
Eu sei que temos mania de dar opinião sobre tudo. Mas olha…Diante de uma opinião mais dura que quase 100% das vezes carrega muita desinformação, o cérebro que já está em pedaços “quebra” ainda mais. E já é uma luta tão grande da pessoa pra “juntar essas peças” e enfim “voltar à vida”…
Vamos primeiro a uma analogia. Você pisaria no pé de alguém que já está quebrado?
Eu sei que muitas vezes falamos na boa intenção, na tentativa de “levantar” a pessoa. Mas quando uma pessoa que está passando por uma crise mais profunda ouve algo do tipo “para de frescura” / “não seja egoísta" é como se tivessem pisando em cima de algo que já está muito machucado.
É porque a perna, por exemplo, é mais fácil de perceber que não tá ali no seu pleno funcionamento. Com o cérebro o buraco é mais embaixo.
Agora vamos a etimologia
A palavra “depressão” vem do latim depressio. Significa apertar firmemente, para baixo. As funções psíquicas da pessoa com depressão ficam afetadas, mais lentas. Não é sobre simplesmente “mudar o pensamento” para algo positivo. Poxa, seria tão mais fácil se fosse!
O apelo é primeiro para que haja empatia diante de uma dor que talvez não faça o menor sentido pra você, mas que está doendo muito no outro. Gente, a vida fica insuportável no sentido LITERAL da palavra. De que não dá mesmo pra suportar, e muitas vezes a pessoa enxerga o fim da vida como a única solução para aquilo que a está aniquilando por dentro.
Eu sei que é comum pensar que essa é uma atitude egoísta. “Poxa, será que não pensa nas pessoas que ficam?”. Gente, muitas vezes o pensamento de uma pessoa com depressão é que essa é a única saída para acabar com uma dor que é de difícil acesso, pois está no lado de dentro. No mundo ocidental que vivemos, a maior parte de cuidados com a saúde que somos estimulados a ter é com aquilo que conseguimos ver, tocar, ou seja, o corpo físico. Cuidamos da aparência, nos preocupamos com a forma do corpo, sem sequer nos dar conta de que aquilo que molda essa camada exterior é o que está por dentro.
Vou dar o meu exemplo. Minha depressão foi diagnosticada lá atrás, em 2012, quando estava aparentemente tudo incrível na minha vida: tinha acabado de retornar de uma viagem perfeita, estava no último ano de faculdade, com um namorado incrível, amigas maravilhosas, estágio, tudo no seu devido lugar do lado de fora. Mas, pelo visto, completamente fora do lugar por dentro. Eu não estava vindo de uma tristeza profunda, nem nada similar. Estava, realmente, tudo "normal", até que - não sei medir exatamente quando nem como -, a vida passou a funcionar de outra forma pra mim. Eu não conseguia ficar confortável em nenhum lugar mais, pois estava no lugar mais desconfortável possível: dentro de mim mesma. Mesmo sem saber falar que raios era aquilo, lembro que olhava pras pessoas na rua e pensava: "como elas estão normal? Será que só eu estou assim?".
Eu sempre fui o xodó em casa, filha caçula, única menina. Sei que se algo acontece comigo, uma parte dos meus pais também se vai. Mas quando eu estava com a depressão ainda não diagnosticada, o meu pensamento era de que a vida deles estaria muito melhor sem a minha presença. Hoje, com a química do meu cérebro “ajustada” com remédio + muito trabalho interior, eu não penso assim, claro. Como nunca pensei assim também antes de ter a depressão.
O cérebro com depressão não funciona de uma forma lógica, racional. Eu não sei os termos biológicos, químicos. Mas eu sei a linguagem da alma. É DESESPERADOR. E também sei que passa. Mas não em um passe de mágica com um simples “pensar positivo”. Eu sequer sabia falar do que eu estava sentindo. Uma amiga que há 4 anos convivia comigo na faculdade percebeu que “algo de errado não estava certo” e perguntou se eu não gostaria de ir ao médico da família dela (tenho uma eterna gratidão a ela!). Numa percepção sutil e certeira, ele diagnosticou a minha depressão. Porque se nem a gente entende, como vamos conseguir explicar pra quem está à nossa volta? No meu caso, eu precisei de medicamento, psiquiatra e anos de terapia que faço até hoje.
Muitas vezes é o uso do medicamento (prescrito pelo médico psiquiatra) que vai dar as condições para que a pessoa possa retornar a um estado “normal” a fim de seguir com a vida e ir em busca de tratamentos paralelos como terapia, por exemplo.
O apelo que faço hoje é pela busca da informação, principalmente se você tem alguém na família que sofre de alguma doença mental.
Não existe mais essa de estigma. Não é coisa de doido. É coisa de humano. Ponto. Não cuidar é que deixa a gente doido.
Escrevo isso hoje de um lugar muito mais distante de dor pessoal. Mas de um lugar empático. Tanto comigo, quanto com pessoas queridas que tenho visto sofrer por uma angústia que aparece mesmo “do nada”, ouvindo falas muito duras de pessoas que a vida lhe apresentou como base.
Muitas vezes numa crise a gente sente a vida por um fio. E sentir aquilo que sempre entendemos como base se tornar instável num momento assim é ainda mais desafiador.
Se informem. Eu sei que é difícil entender pra quem não sente. Minha família até hoje não me entende muito bem. Eles são mais práticos, objetivos. Já eu, completamente subjetiva. Foi um longo caminho para chegarmos a um ponto comum de acolhimento com base muito mais no respeito do que no entendimento. Porque muitas vezes eles não me entendem mesmo, e nem eu a eles. Desde que haja respeito, está tudo bem.
Por isso é tão importante pensar na ajuda que oferecemos. Porque por melhor que seja a nossa intenção, podemos machucar ainda mais quem já está tão ferido. Se achar que não consegue ajudar seja lá por qual motivo for, está tudo bem também. Se coloque à disposição apenas se for possível pra você. Mas caso se coloque, em vez de tentar entender, acolha. Em vez de julgar, escute. Pergunte o que a pessoa está precisando. Na maioria das vezes a gente só entende o porquê de uma crise muito tempo depois, quando já estamos mais fortalecidos internamente.
Que a gente cuide cada vez melhor de nós mesmos e dos nossos, num lugar de respeito, empatia e acolhimento. 💛
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